O caso do Leandro, o miúdo que se suicidou porque estava farto de levar porrada dos grandes, obriga-me a escrever enquanto professor.
Enquanto professor, embora há muitos anos não lide com a arraia mais miúda, não tenho a mínima hesitação em apontar o dedo à escola e aos meus colegas: a culpa também e muito principalmente é vossa.
Faço esta acusação porque conheço as práticas correntes de gingeira. Porque sei do hábito instalado de achar que putos à porrada é normal, e desde que não partam a cabeça é deixá-los andar. Porque vi a indiferença instalada desde sempre perante situações de abuso dos grandes perante os pequenos.
E faço-a com a memória de, num belo dia em que numa visita de estudo agarrei um matulão que pontapeava um pequenitote e lhe enfardei da comida que estava a dar, ainda ter tido de ouvir uns responsos dos meus colegas, cujo eduquês entendia que uma participação para adormecer num cesto dos papéis qualquer é que era.
É claro que o sistema facilita. Seja o das legislações patetas, seja o da falta de auxiliares, vigilantes (sim, algumas escolas precisam mesmo de seguranças), psicólogos e assistentes sociais, seja a não responsabilização dos adultos por situações destas, a que assistem impávidos e serenos.
Ainda uma nota sobre a merda da palavra que aparece sempre nestas ocasiões, bulingue ou lá como dizem. Como a Maria João muito bem assinala o dito bulingue não é de hoje, é de sempre. Precisamente por ser de sempre é que é tolerado. E não precisa de palavras em línguas foleiras para ser descrito: praxe serve muito bem para o efeito, na generalidade dos casos.
Tempos atrás discutia este assunto com um amigo e colega da minha criação, que jurava a pés juntos que isto agora não tinha nada a ver com o nosso tempo, os putos são mais violentos, o dito bulingue é uma novidade, e o camandro.
Tive de lhe avivar a memória:
– Olha lá, não te lembras que sempre foste um matulão do caraças, e que na primária eras o primeiro a bater? E nunca levavas?
E lá teve de se lembrar.
Os meus parabéns pelo post. Diz o que é preciso dizer. O eduquês está a desresponsabilizar a criança e a transformar o professor num autómato – o que não é difícil, dado que as universidades cospem cá para fora um número excedente de medíocres sem iniciativa e capacidade crítica.
no video não deixa de ser curioso o uso, pela agressora, dum terço ao pescoço
Triste e preocupante.