Um aroma reitoral

Brindou-me o Reitor com análise detalhada das minhas últimas flatulências sobre o ensino privado. Agradeço e retribuo. Afirmas:

Os custos com o pessoal são muito inferiores no privado.

Acredito, se o dizes, tem de ser verdade. Tu sabes tudo. Mas pela análise das tabelas salariais contratadas não percebo. Será que as escolas privadas usam e abusam dos contratados? Despedem sem justa causa mal começam a ganhar muito? Ou, como se queixam os sindicatos, não as cumprem?

Será que as turmas têm todas 28 alunos? Os professores 26 aulas por semana? Eu pergunto todos, porque tenho uns amigos num colégio afamado cá do burgo que se queixam disso mesmo.

De qualquer forma, e para o que nos interessa, havendo mercado de trabalho, e podendo um professor optar pelo público, que pagaria mais, a qualidade dos professores do privado não deixará muito a desejar? Não ficarão com o refugo? E se deixa a desejar o ensino não será fracote?

O custo por aluno nas escolas privadas é muito inferior ao custo por aluno nas escolas públicas. Digo-lhe mais: o custo por aluno nas escolas públicas do ensino preparatório e secundário (mais de 5.000 euros) é cerca de 2.000 euros mais elevado do que o custo por aluno nas escolas privadas. E, por favor, não me peça para comprovar. Peça antes ao seu Estado que mostre os números daquilo que todos nós pagamos com a educação dos jovens.

Nenhum de nós acredita em números vindos deste governo. Eu também não acredito nos números da OCDE, que além de terem 3 anos são calculados com dados do mesmo governo. Nos números da associação patronal dos colégios e afins acredito tanto como na bondade natural do ser humano.  Mas esse favor não te faço. O Estado que não é meu, diz-me uma coisa, tu, os patrões dos colégios e os senhores bispos dizem outra. Eu quero factos, não vou lá por convicção. Sou um céptico. Lamento. Fiquemos pela lógica. No privado, mesmo que os custos com pessoal sejam maliciosamente mais baixos, há ainda o lucro.

O “Lucro” não é nem nunca foi uma “despesa”, João, o “lucro” é “lucro”.

dizes. Para o estado que tem de o pagar se subsidiar alunos no privado é uma despesa. E desnecessária acrescento. No ensino, na saúde, nas parcerias público privadas em geral, os custos disparam porque ao contrário do estado os privados não existem para benefício público, existem precisamente para gerarem lucros. Razão principal porque estamos onde estamos, com a contribuição dos nossos governantes, tão generosos com as empresas, gente tipo Manuela Ferreira Leite que a seu tempo também fazia o OE dar umas cambalhotas à grega.

Tens de me apresentar contas muito bem feitinhas, e descer da tua arrogância para me convenceres. É a vantagem de ter sido educado em escolas públicas: aprendi de pequenino a duvidar  dos professores que falam de cátedra, e principalmente a não confiar em reitores.

Ou provas os teus números que contrariam a lógica, e me demonstras que em época de crise o estado pode sustentar o luxo de cada um escolher a escola que acha melhor para os seus filhos, ou será melhor arrumares a arrogância no sítio por onde evacuas os traques. Parece que todos temos de libertar pelo menos meio litro dos ditos por dia.

Comments

  1. Daniel says:

    As tabelas não diferem muito, mas há 2 aspectos que contribuem para os menores gastos com o pessoal:

    – O horário lectivo é de 25 horas, independentemente da idade, logo menor necessidade de professores.

    – Quando a idade avança, sobretudo quando atingem os 40 e poucos anos, é negociada a saída destes professores: já estão a ganhar mais e têm dificuldades em leccionar 25 horas por semana. Daí existirem poucos professores com salários líquidos acima dos 1500 euros.

  2. Os professores no privado – se não pertencerem à família dos donos das escolhinhas – não recebem Subsídio de Férias nem de Natal Y mais estão sempre sobre o jugo do despedimento. Y mais assiam contratos formais – conforme a constituição. Mas na prática o Contrato Vigente é pura Parasitação esclavagista dos tais Ilustres donos das escolas Privadas. Esta é a realidade! Y a Sentença é: “Y é se queres!”

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