GAVE & PISA

COMO SE FORA UM CONTO

Há por aí algumas coisas que me baralham.

Sendo pai de vários filhos, em diversos sectores etários, vejo-me confrontado com diversas realidades. Uns, os mais velhos, são já formados, estão empregados, ganham mal, mas vão sendo dos que, privilegiados, arranjaram trabalho remunerado nestes dias tão difíceis. Um outro, já no segundo ano da faculdade, é um aluno quase brilhante, pelo menos se comparado com os seus pares. O mais novo, actualmente no sétimo ano de escolaridade é um aluno médio/bom. São pessoas que sabem falar sobre qualquer assunto, dependendo do nível da sua formação e que não dão pontapés na gramática Portuguesa. Para tal, tive ao longo dos anos, uma especial atenção à forma como se expressavam, como escreviam e como elaboravam as suas ideias. A par disso, a minha atenção virou-se muito e também para a compreensão dos números.

Pela minha casa, e ao longo destes já muitos anos, não entraram, mea culpa, as ideias educacionais socializantes pós vinte e cinco de Abril que deram pelos nomes de ‘proibido proibir’, ‘não bata que castra e traumatiza’, ‘testes das cruzinhas’, ‘não retenha (reprove) que atrapalha a média’, ‘é preciso retirar a antiga autoridade (fascizante) ao professor’, ‘é preciso respeitar o perfil do aluno’, ‘auto-avaliação do aluno’, ‘o aluno avalia o professor’, ‘os pais sabem mais que os professores e menos que os alunos’ etc., e por via disso, sempre fui pouco tolerante com o actual espírito académico feito à imagem de uns quantos parvalhões elevados a ministros e directores, especialistas pseudo-intelectuais da educação, que nunca se entenderam, nem ao País, ao longo destes trinta e cinco anos, muitos deles a demonstrarem para quem queira ouvir, a sua pouca formação na língua Pátria, mal-formando as frases, errando na concordância, aplicando o calão nos seus modos de falar, ou, demonstrando a sua pouca qualificação para as simples contas de somar ou subtrair.

Dias atrás, o governo deste nosso País, engalanou, teceu loas a si próprio, lançou foguetes, correu a apanhar as canas e todo sorridente mostrou ao povo o estudo do PISA, que colocava o rectângulo na média educativa europeia. O sonho de qualquer educando ou educador. Claro que não se falou muito nas reais razões que nos levaram a subir na média, falando-se unicamente no melhor aproveitamento dos alunos, que reprovaram menos e pouco mais, mas isso são outras contas que não convinha esmiuçar.

Entretanto, e ainda o ribombar dos foguetes não tinha esmorecido, nem todas as canas tinham sido apanhadas, eis que do próprio Ministério da Educação, chega um relatório do GAVE que nos vem dizer que afinal de contas, os alunos do nosso País, do oitavo ao décimo segundo ano de escolaridade, portanto aqueles que logo a seguir irão para uma qualquer faculdade preencher ‘inquéritos de satisfação’ para avaliar os seus professores e mais tarde serão os nossos futuros médicos engenheiros políticos economistas e gestores, são incapazes de estruturar um texto ou de explicar um raciocínio básico, ou mesmo de enfrentar um enunciado que não seja simples e curto, interpretar um texto poético ou solucionar um exercício matemático com mais de duas etapas.

Terá chegado, talvez (na realidade já o deveria ter sido), o tempo em que se deverá voltar a obrigar quem nos governa a ter vergonha na cara, eliminando o carreirismo destes pedagogos incapazes e regressando às origens sem receios, aproveitando o conselho do ME, ‘pais, alunos e escolas devem preocupar-se mais com o que os alunos aprendem e menos com os resultados’, acrescentando eu nesta frase do Ministério a palavra governo logo no seu início.

Há por aí algumas coisas que me baralham, em especial que se aceite calmamente que o nosso futuro esteja entregue a esta gente que nos governa.

 

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