Para a Carla Romualdo
e para o seu
O piloto recebeu ordens superiores.
Receber ordens superiores é o que faz um piloto militar. Receber ordens, assentir, não questionar, cumprir. O ar, para o piloto militar, é meio, não é fim.
O piloto olhou o co-piloto e ambos assentiram questionar e não cumprir. Não bombardear o povo a que se pertence, não bombardear o povo que se é, não bombardear quem se é.
Ao carregar no botão de ejeção, o piloto deixou de pilotar o avião e pilotou a vida. Uma história bonita, estória de heróis quando tudo arde, mesmo que tudo arda, ainda que tudo arda.
Uma estória de aviadores. A história do Aviador Líbio.
Há uma história nossa muito parecida no 25 de Abril. Um desconhecido alferes que perante a ordem de disparar do tanque para a multidão no terreiro do paço mandou o brigadeiro, ou lá o que era, dar uma curva. Foi-me contada na primeira pessoa por um soldado que fazia parte dessa companhia e já a ouvi circular por aí.
Miguel, um compromisso inadiável em Estugarda obriga-me a ser breve, sei que compreendes.
Não viste o filme da Maria de Medeiros sobre o 25 de Abril? É uma das cenas fortes.
Era o alferes miliciano Fernando Sottomayor, que recusou disparar sobre Salgueiro Maia. Neste momento, deve andar quase pelos 60 anos. Vive em Leiria como um anónimo cidadão. É um velho sonho meu, trazê-lo ao Aventar.
O alferes Fernando Sottomayor é agora um conceituado estudante de mestrado em História Contemporâena na Faculdade de Letras do Porto, onde tive o prazer de o conhcer!
Esse alferes miliciano Fernando Sottomayor heroi desconhecido, ainda sabe comandar um tanque?
É que qualquer dia, vamos precisar dele.
Meu caro Pedro, o aviador irlandês – o verdadeiro, não o fajuto que anda por aí – começava assim:
“I know that I shall meet my fate
Somewhere among the clouds above;
Those that I fight I do not hate,
Those that I guard I do not love;
My country is Kiltartan Cross,
My countrymen Kiltartan’s poor (…)”
Pegando outra vez no fio da conversa: ainda dizem que há coincidências.